A construção civil é uma das atividades com maior impacto no meio ambiente, emitindo grandes quantidades de poluentes, danos pela extração de matéria prima da natureza, e grande geração de resíduos sólidos.
Apesar de ter revolucionado a construção, e ajudado no progresso da humanidade, o cimento tradicional é um dos grandes vilões para o futuro do planeta. O cimento é o segundo material mais usado pelo homem, perdendo apenas para a água. Segundo a ONU, a indústria do cimento é responsável por 5% da emissão de CO2 que vai para a atmosfera. Além disso, durante sua fabricação são liberados óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e compostos de chumbo, sendo todos eles poluentes.
Além disso, duas das suas principais matérias primas são a argila e rochas calcárias. A extração destes materiais da natureza pode causar desmoronamentos em jazidas, erosões, aprofundamento do leito de rios, prejudicando a fauna e flora do local.
O elevado consumo de energia e emissão de poluentes durante o processo de fabricação de cimento motivou a busca por uma solução mais amigável ao meio ambiente, resultando no cimento sustentável. Saiba mais neste artigo sobre este material de construção sustentável, que está ganhando o mercado rapidamente.
Mas o que é cimento sustentável?
A base do cimento é uma mistura de calcário moído com argila. Após misturados, estes elementos aquecidos em fornos rotativos com temperaturas de até 1500ºC, resultando em um material granulado e duro, chamado clínquer, que é moído junto com outros materiais como a gipsita (gesso) para a obtenção do cimento.
A produção do clínquer necessita de muita energia elétrica, térmica e é a etapa de fabricação que mais emite poluentes. A produção de uma tonelada de clínquer gera em torno de 900 Kg de dióxido de carbono e queima entre 60 a 130 quilos de combustível fóssil.
No cimento sustentável parte do clínquer (entre 30% a 70% em alguns casos) é substituído por pela escória granulada de alto forno, um rejeito das indústrias siderúrgica, termelétrica, de fundição e de carvão vegetal, reduzindo as emissões de CO2 em até 95% e o gasto de energia em 80%.
Existem duas variações do cimento sustentável: CP III — Portland de alto forno e CP IV – Cimento Portland pozolânico, sendo a primeira a alternativa mais amigável ao meio ambiente.
Quais as aplicações do cimento ecológico?
De acordo com a NBR16697 de 07/2018, o cimento sustentável CP III é um material de uso geral que pode ser empregado em diversos tipos de obras e aplicações, se destacando em obras de concreto-massa. Confira a lista abaixo:
- Argamassa de assentamento de tijolos e blocos;
- Colocação e rejuntamento de azulejos e ladrilhos;
- Fabricação de concreto simples, magro, protendido, roldo, armado, dentre outras;
- Elementos pré-moldados e artefatos de concreto;
- Peças de grandes dimensões;
- Construção de barragens;
- Fundações de máquinas;
- Pilares, inclusive de pontes;
- Obras em ambientes agressivos;
- Tubos e canaletas para condução de líquidos agressivos, esgotos e efluentes industriais;
- Concretos com agregados reativos;
- Obras submersas;
- Pavimentação de estradas e pistas de aeroportos;
Quais as vantagens do cimento sustentável?
Além do custo de fabricação menor e menor emissão de poluentes, o cimento sustentável também é uma alternativa com qualidade superior ao cimento comum. A soma destes fatores resulta em um produto que está ganhando rapidamente o mercado e já representa 29% de todo o cimento consumido no Brasil, fazendo com que a nossa indústria cimenteira seja a mais sustentável do mundo.
- Baixo calor de hidratação, gerando menos fissuras;
- Maior durabilidade;
- Resistente a sulfatos, podendo ser usado em ambiente com alto índice de corrosão, como obras marítimas e locais com líquidos agressivos como esgotos e efluentes industriais;
- Maior a impermeabilidade;
- Maior estabilidade;
- Menor emissão de CO2 e outros gases poluentes durante a fabricação;
- Menor uso de energia elétrica no processo de produção;
- Menor uso de combustíveis fósseis durante a fabricação;
- Menor custo de produção;
O cimento sustentável em nada perde para o cimento tradicional, necessitando dos mesmos cuidados para transporte e armazenagem.
O que mais pode ser feito?
Apesar do cimento sustentável já diminuir consideravelmente os danos causados ao meio ambiente, é possível ir além. Com a orientação do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD – Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável), a Cement Sustainable Initiative (CSI – Iniciativa para a Sustentabilidade do Cimento) encomendou uma pesquisa sobre o impacto da indústria do cimento, e com os dados obtidos elaborou uma lista de itens que podem melhorar a sustentabilidade da indústria cimenteira. Confira:
- Alteração de plantas fabris, de modo a haver captura do carbono emitido;
- Utilização unicamente da via seca no processo de produção, exigindo menor alimentação do forno;
- Reaproveitamento de resíduos industriais e agrícolas para alimentação do forno, ao invés de usar combustíveis fósseis (coprocessamento);
- Quando possível, substituir o uso do cimento por materiais mais sustentáveis;
- Alteração da formulação do cimento para que sua produção libere menor quantidade de CO2.
Algumas destas medidas já são adotadas pela indústria brasileira, gerando em torno de 600 Kg de CO2 por tonelada de cimento, contra 900 Kg da média mundial. “Com o co-processamento, adições e uso de biomassa nos fornos, temos margem para diminuir para os 430 Kg”, de acordo com o diretor de assuntos corporativos da Holcim Brasil, Carlos Eduardo de Almeida.
Desde sua invenção no século 19, o cimento revolucionou a engenharia civil e revolucionou a forma como cidades inteiras são construídas. Considerando o crescimento do ramo da construção civil em todo o planeta, é imprescindível que opções que causem menores prejuízos ao meio ambiente sejam consideradas na hora de planejar sua obra, garantindo um futuro melhor para as próximas gerações. O cimento sustentável é uma prova que é possível substituir materiais de construção tradicionais por opções mais sustentáveis sem perda de qualidade.
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Fontes:
https://cimento.org/cp-iii-32-cimento-portland-de-alto-forno/
https://cimento.org/industria-brasileira-de-cimento-e-a-mais-sustentavel-do-mundo/
https://www.wbcsdcement.org/
https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/1569-processo-de-producao-do-cimento-gera-emissoes-e-pode-diminuir-biodiversidade.html
https://www.pensamentoverde.com.br/arquitetura-verde/cimento-ecologico-alternativa-verde-construcao-civil/
https://blogpraconstruir.com.br/dicas-solucoes/cimento-sustentavel-o-que-e-e-quais-os-beneficios-ao-utiliza-lo/
https://www.abcp.org.br/cms/basico-sobre-cimento/historia/uma-breve-historia-do-cimento-portland/